segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Papo de Pescador - Camisa 15 sem holofotes, por favor

Foto: Fernando Borges - Terra
Arte: Bruno Eizo
É domingo em Santos. O sol já vai se pondo no horizonte e a orla da praia já não recebe os turistas e moradores que, a essa hora, já se recolheram pensando em mais uma jornada de trabalho que está por vir. Apesar de estar somente começando, a semana é de festa para a cidade, uma vez que na quarta-feira o Santos Futebol Clube faz seu primeiro jogo na final da Taça Libertadores da América, podendo repetir um feito que apenas Pelé e companhia conseguiram com a camisa do time da Vila Belmiro.

Para muitos jovens, já em férias, a festa é ainda maior, principalmente na Praia do Gonzaga. Se seus pais estão em casa, eles formam uma quilométrica fila na porta de uma das baladas mais agitadas de Santos. O movimento é tanto que perto das 20 horas, o segurança determina: “Ninguém mais entra”.

Em meio à multidão, despercebido, como quase sempre, está um dos personagens da final histórica que o Santos faria com o Peñarol daqui a três dias. Em uma época em que jogador de futebol virou popstar e adora aparecer, esse jovem, nascido em São Vicente – cidade vizinha de Santos – é exceção. Sua vestimenta já comprova essa tese. Nada de corte de cabelo ousado, correntes de ouro ou prata com aqueles gigantes pingentes, calça saruel e camisa grudada no corpo. Pelo contrário, com um boné ele parece se esconder para não ser reconhecido. Com 1,71m até que a tarefa não é das mais difíceis.

Ele só se faz reconhecer quando usa seu “prestígio” para atender um dos funcionários da casa, furar fila e com a ajuda do segurança entrar na casa noturna. Facilidade esta que não encontrou até se firmar como um dos titulares do Peixe.

Revelado em 2006, o jogador não guarda boas recordações de sua estréia. Entrou no decorrer do jogo, no lugar de Rodrigo Tabata, e foi expulso após 18 minutos em campo na vitória do Peixe sobre o Paraná por 2 a 0. Mas deu a volta por cima e foi elogiado em algumas partidas, principalmente em uma contra o Palmeiras, quando anulou Valdívia, na época em grande fase. No ano seguinte, chegou as quartas-de- final em sua primeira Libertadores, mas uma lesão no joelho esquerdo fez com que o volante não fosse aproveitado em 2009. Foi emprestado ao São Caetano e logo em sua chegada projetou. “Fico aqui por um ano e retorno ao Santos”.

Mas seria difícil cogitar um retorno tão vitorioso. Quando voltou, via a sua frente Roberto Brum, Rodriguinho e Arouca, preferidos por Dorival Júnior, que logo foi demitido após queda de braço com Neymar. “Recomecei jogando no time de aspirantes até que recebi uma oportunidade do Marcelo Martelotte (técnico interino) durante o Campeonato Brasileiro. Fiz um bom jogo contra o Atlético Mineiro e passei a ser relacionado até o final da temporada".

De mansinho, correndo pela beiradas e como quem não quer nada cabem perfeitamente em qualquer descrição a ser feita do dono da camisa 15 do Peixe na Libertadores, de 2011: Adriano. Apesar da numeração não ser a tradicional para um jogador titular, o volante é um dos quatro jogadores que disputaram todas as partidas do Santos na competição que culminou com o tricampeonato da Libertadores.

Aos 24 anos e 118 partidas com a camisa alvinegra, o volante foge dos holofotes e comemora cada roubada de bola como se fosse um gol. O gol, inclusive, que ele nunca fez com a camisa do Santos, mas poderia ter feito caso mantivesse um antigo hábito: bater faltas. Em 2005, foram seis gols – três de falta e três em chutes de fora da área – com a camisa 10 do São Vicente, onde atuava mais avançado. Hoje, seu forte mesmo são os desarmes, prova disso é que o atleta terminou o Campeonato Paulista como o segundo maior ladrão de bolas, com 75 roubadas.

Assim como na balada, Adriano passa despercebido em campo. Seu jeito simples e sério combina com a raça demonstrada dentro das quatro linhas com carrinhos, marcações implacáveis, passes curtos e muita vontade.

Na balada, Adriano também foge dos holofotes
Arquivo pessoal
Na casa noturna, o volante era apenas mais um no meio dos jovens que divertiam ao som de muito Pagode, estilo musical preferido do jogador. Tão preferido, que desde a infância o jogador é chamado assim. “Esse apelido veio do meu avô. Eu era mirradinho e ele me chamava de Zeca Pagodinho. Aí ficou Pagode”, explica o jogador, lembrando que a preferência só é deixada de lado antes das partidas, por causa de uma superstição. “Eu gosto de ouvir sempre a mesma música que se chama O Preço, do Charlie Brown Jr.” Mas curtir a noitada não é preferência na programação de Adriano, que prefere ir ao cinema com a namorada ou ficar em casa com a família. “Eu prefiro ficar de boa”.

Que as coisas melhoraram para Adriano ninguém duvida, mas isso tudo será colocado a prova nos próximos meses. O Santos contratou dois reforços (Henrique e Ibson) para o meio de campo, que chegam para disputar posição com Adriano. “Vou continuar trabalhando forte como sempre fiz, e o professor vai escolher quem estiver melhor”.

Se Adriano mantiver a regularidade do primeiro semestre, com certeza irá tirar nota 10 com o ‘professor’ Muricy e garantirá uma vaga entre os 11 titulares santistas no Mundial Interclubes, em dezembro. Apesar de querer uma vaga no time principal, ele prefere continuar com a camisa 15, que depois da conquista da Libertadores se tornou um amuleto.

Com a camisa da sorte, Adriano não tem medo de errar e acredita que pode sonhar com vôos mais altos como diz a letra da música, que ouve antes dos jogos: Como era difícil acreditar; Que eu ia chegar onde estou; Que minha vida iria mudar, e mudou; Dificuldade então...Corri pra ver o mar; Fui atrás do que quis; Sabia só assim, podia ser feliz.

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19 comentários:

Bruno Eizo disse...

mitou

Anônimo disse...

CAIO:

ele e o arouquinha ali ngm passaa huahauahuahu!!! joga mtoo!!

Luís disse...

Muito bom o texto!
E que bom seria se os jogadores fossem assim: jogar + / aparecer -...

Felippe Scozzafave disse...

Muito legal..
O autor do texto soube utilizar muito bem a música, extraindo trechos para colocar nesse pequeno perfil do Adriano..
Parabéns!

Carlos Brito disse...

O futebol seria um espetáculo ainda mais bonito se a maioria dos atletas não permitisse que o sucesso lhe subisse à cabeça. Continue assim garoto. És um exemplo não só para alguns veteranos da bola como também para alguns jovens que nem se firmaram e já se consideram popstars.

aquinojudoca disse...

Bom texto que retratou bem a realidade deste rapaz dedicado e muito aplicado taticamente. Torço pelo sucesso do Pagodinho. Trabalhei com ele na seleção santista de futsal mirim. Lá, já se destacava pelo desempenho em prol do grupo.

Sheilinha disse...

Pois eh...nem todos os jogadores tem humildade, principalmente do Santos...conheci cada "estrelinha"!rs
Texto muito bem escrito, Paje! Sempre soube do seu talento e sua preferencia pelo jornalismo esportivo! Ta mandando muito, q orgulho! =)
Beijos, parabens!
Diretamente de Washington - USA!
hahahahaha

Bruno Penna disse...

Não chega a ser um Ralf, mas é muito bom jogador!
Gostei do perfil, bem escrito. Essa pauta seria otima para o finado Bola & Panderio Continue assim, e da uma melhorada no cartola!

Diogo CDP disse...

Lindo(rsrs),

Parabéns pela matéria, sou flamenguista mas ficou ótima, você tem talento...

Abraços!!!

Justo disse...

Adriano arrumou o meio-campo, depois de tanto tempo emprestado descobriu como jogar e agora é peça fundamental!

Bia Garrido disse...

show de bola, galera! Parabéns pela matéria, pela iniciativa...

Dudu disse...

Parabéns Pajaro! Muito bem escrito e reflete a mais pura verdade...

Murilo disse...

Jornalista talentoso esse mininuu, tem futuro auhahu e o adriano é isso ai mlk, deixa ele que vira titula e nao sai mais, marca mtooo bjo pajaa

LEO AMARAL disse...

Opa, vc disse balada de domingo em Santos? hauuahuah me lembro bem desse dia. Posso me gabar que ele estava ali para me ver tocar? rs Ah, já disse... então registro o meu orgulho pelas minhas amizades: dele pelo sucesso relatado e humildade reconhecida e vc pelo excelente texto meu garoto!

Jessica Ruffo disse...

Totalmente feliz em falar sobre as baladas lotaaaadas! Vc escreve muito bem Pajarinho, parabéns!!! beijinhos

Letycia Queiroz disse...

Parapéns pelo texto. É um retrato fiel do que é o Adriano: talentoso e discreto.

Mauricio disse...

Muito bom. A ideia central do texto é ótima ("Assim como na balada, Adriano passa despercebido em campo".

Raquel disse...

Talento, discrição e humildade nas medidas certas. Parabéns, Adriano!

Patrícia Diniz disse...

Só o Adriano sabe o quanto foi árduo trabalhar para chegar até aqui!

O mais bacana é que ele mantém a dedicação e não se vislumbra com os flashs, continua na batalha, trabalhando como outro ser humano qualquer, para conquistar seu espaço na carreira profissional.

Parabéns pelo texto e ao Adriano que é essa simplicidade de pessoa.